Charros cultivados em casa
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Charros cultivados em casa
Charros cultivados em casa
No quarto, na varanda ou numa estufa caseira. Portugueses que cultivam marijuana às escondidas
R. tinha a lição bem estudada. Se algum dia a polícia ou a senhoria lhe tocassem à campainha, a porta da despensa jamais seria aberta. A desculpa era quase perfeita: ali funcionava um "laboratório de fotografia", ferramenta indispensável para os quatro estudantes de Novas Tecnologias da Comunicação que partilhavam o apartamento. Mas a verdadeira utilidade da divisão, uma plantação com dez pés de canábis, esteve quase a ser descoberta. Numa noite de copos, o vizinho de baixo chamou a polícia. Resultado: a única planta que estava fora da estufa voou pela janela do 4.o andar.
"Foi o caloiro que a atirou", recorda R., divertido. O episódio teria tido outro desfecho, provavelmente menos engraçado, caso a polícia tivesse descoberto o "jardim" dos estudantes. O mais certo era serem acusados de tráfico de droga, como já sucedeu diversas vezes em Portugal. É assim desde que, em 2003, foi aprovada uma lei que inclui as sementes de canábis na lista das substâncias proibidas. O que faz com que semear ou plantar seja também um acto ilegal, considerado crime sempre que as doses extraídas sejam superiores a 25 gramas.
É essa razão que leva hoje algumas centenas de pessoas a concentrarem-se no Largo do Rato, na marcha global da marijuana. "Queremos a remoção da canábis e de todos os derivados da planta da lista de substâncias controladas", adianta Pedro Pombeiro, um dos responsáveis pela organização. Paralelamente, os manifestantes reclamam o direito ao autocultivo, havendo até uma petição na internet que pretendem entregar na Assembleia da República.
Estufa caseira Cinco anos depois do episódio com a polícia, R. recebe-nos em sua casa, onde vive com a mãe, na sua cidade natal. As dúvidas ficam à porta do quarto: lá dentro, as referências à cultura canábica multiplicam-se. Há cachimbos de toda a espécie cuidadosamente alinhados numa prateleira, lado a lado com uma das imagens mais icónicas dos últimos anos: a folha de cânhamo.
"Tive de desistir da minha plantação recentemente. Era na casa da minha avó, que foi vendida há pouco tempo", conta, enquanto exibe fotos dos tempos em que a produção atingia os 100 gramas por planta. A estrutura, concebida e montada por R. e um amigo, "incluía lâmpadas de sódio com 600 watts, extractores de ar, controladores de temperatura e humidade e temporizadores de luz". Cinco meses bastavam para que as plantas ficassem cheias de "cabeças" ? termo usado para definir a extremidade florida das fêmeas, onde se concentra o THC, responsável pela "moca".
Apesar de fechada a sete chaves - "ninguém entrava naquela divisão" -, quando chegava a época da colheita os dois amigos redobravam de cuidados. O cheiro sentia-se no hall de entrada. "Depende da localização da casa ou da vizinhança. É sempre um risco, mas numa moradia é mais seguro, apesar de hoje haver filtros para disfarçar o cheiro. Convém também ter muita confiança com os vizinhos."
Agricultura de subsistência Embora consciente do risco que corre, S., um empresário do ramo hoteleiro do Centro do País, costuma dizer que tem mais medo de ser apanhado a conduzir sem cinto que de receber a visita da polícia em casa. "Nunca vendi uma única folha. Por que razão havia de ter medo?", questiona o activista, que hoje vem a Lisboa para participar na marcha global da marijuana.
Tal como a maior parte dos que se dedicam à produção caseira, S. considera que a ideia de vender é contra os princípios do autocultivador. Nestes meandros, é habitual dizer-se que o tráfico é inimigo do autocultivo. E que a perseguição a quem cultiva favorece a criminalidade organizada. "Há cada vez mais pessoas a cultivar e a lutar pela legalização do autocultivo. Tal como a palavra indica, produzem para consumo próprio, não querem financiar as redes de tráfico", explica Pedro Pombeiro.
Mais de 20 anos depois de o pai ter encontrado uma planta "que se fartava de crescer mas não dava flor", S., hoje com 44 anos, abre-nos a porta do seu retiro. É um apartamento desabitado no Norte do país, onde se dedica às suas grandes paixões: a pintura e as plantas de canábis. "Por ano costumo ter 12 ou 13 plantas. São para mim e para mais dez amigos. Começo a colher em Setembro, e em Fevereiro ainda temos erva. Cada planta dá cabeças para encher uma garrafa de água de um litro e meio", garante o empresário, que fuma regularmente desde os 18 anos.
Ao contrário dos muitos produtores de canábis portugueses, S. não tem qualquer método de cultivo sofisticado. "Só água e terra", explica. Em tempos, uma vez por dia, mudava os vasos da varanda das traseiras para a da frente, "para apanharem sol todo o dia". Hoje limita--se à poda: "Ficam mais fortes e não crescem tanto em altura."
Ainda assim, não será muito difícil ao vizinho da frente identificar as plantas de canábis, que ganham espaço entre uma laranjeira e um carvalho, em plena varanda urbana. Para evitar os olhares indiscretos, o empresário instalou uma pequena rede de jardim no parapeito. Nada que o preocupe muito.
Planta de estimação Até aos 18 anos, quando semeou pela primeira vez uma planta, P. não fazia ideia do que era o autocultivo. Nunca plantara qualquer espécie, mesmo tendo uma família ligada à agricultura. Hoje fala de clones canábicos como um padeiro de farinha e pão. "Foi um holandês, uma espécie de graal, que me inspirou", conta. "É como o vinho. A marijuana tem diferentes espécies, sabores, efeitos, consoante o tipo de semente." Foi numa pequena divisão de casa, onde em tempos teve um estúdio de fotografia, que montou a sua estufa. "Não é muito sofisticada", adianta. "Tenho duas lâmpadas, um extractor e um intractor de ar." O material é caro: só uma lâmpada de sódio com 600 watts pode custar 125 euros. Além do investimento, convém somar 70 euros ao consumo mensal de electricidade.
P. sabe bem do que fala: por ano, produz uma média de 10 plantas, quantidade suficiente para ele e para a namorada. E se uma estufa caseira não implica uma dedicação excessiva ? apenas a rega, que pode ser automática, e a poda ?, a verdade é que "criar uma planta de canábis é muito mais do que isso". "Dedico bastante tempo da minha vida às plantas, crio uma relação com elas. Como se fossem animais de estimação."
Fonte: Original
No quarto, na varanda ou numa estufa caseira. Portugueses que cultivam marijuana às escondidas
R. tinha a lição bem estudada. Se algum dia a polícia ou a senhoria lhe tocassem à campainha, a porta da despensa jamais seria aberta. A desculpa era quase perfeita: ali funcionava um "laboratório de fotografia", ferramenta indispensável para os quatro estudantes de Novas Tecnologias da Comunicação que partilhavam o apartamento. Mas a verdadeira utilidade da divisão, uma plantação com dez pés de canábis, esteve quase a ser descoberta. Numa noite de copos, o vizinho de baixo chamou a polícia. Resultado: a única planta que estava fora da estufa voou pela janela do 4.o andar.
"Foi o caloiro que a atirou", recorda R., divertido. O episódio teria tido outro desfecho, provavelmente menos engraçado, caso a polícia tivesse descoberto o "jardim" dos estudantes. O mais certo era serem acusados de tráfico de droga, como já sucedeu diversas vezes em Portugal. É assim desde que, em 2003, foi aprovada uma lei que inclui as sementes de canábis na lista das substâncias proibidas. O que faz com que semear ou plantar seja também um acto ilegal, considerado crime sempre que as doses extraídas sejam superiores a 25 gramas.
É essa razão que leva hoje algumas centenas de pessoas a concentrarem-se no Largo do Rato, na marcha global da marijuana. "Queremos a remoção da canábis e de todos os derivados da planta da lista de substâncias controladas", adianta Pedro Pombeiro, um dos responsáveis pela organização. Paralelamente, os manifestantes reclamam o direito ao autocultivo, havendo até uma petição na internet que pretendem entregar na Assembleia da República.
Estufa caseira Cinco anos depois do episódio com a polícia, R. recebe-nos em sua casa, onde vive com a mãe, na sua cidade natal. As dúvidas ficam à porta do quarto: lá dentro, as referências à cultura canábica multiplicam-se. Há cachimbos de toda a espécie cuidadosamente alinhados numa prateleira, lado a lado com uma das imagens mais icónicas dos últimos anos: a folha de cânhamo.
"Tive de desistir da minha plantação recentemente. Era na casa da minha avó, que foi vendida há pouco tempo", conta, enquanto exibe fotos dos tempos em que a produção atingia os 100 gramas por planta. A estrutura, concebida e montada por R. e um amigo, "incluía lâmpadas de sódio com 600 watts, extractores de ar, controladores de temperatura e humidade e temporizadores de luz". Cinco meses bastavam para que as plantas ficassem cheias de "cabeças" ? termo usado para definir a extremidade florida das fêmeas, onde se concentra o THC, responsável pela "moca".
Apesar de fechada a sete chaves - "ninguém entrava naquela divisão" -, quando chegava a época da colheita os dois amigos redobravam de cuidados. O cheiro sentia-se no hall de entrada. "Depende da localização da casa ou da vizinhança. É sempre um risco, mas numa moradia é mais seguro, apesar de hoje haver filtros para disfarçar o cheiro. Convém também ter muita confiança com os vizinhos."
Agricultura de subsistência Embora consciente do risco que corre, S., um empresário do ramo hoteleiro do Centro do País, costuma dizer que tem mais medo de ser apanhado a conduzir sem cinto que de receber a visita da polícia em casa. "Nunca vendi uma única folha. Por que razão havia de ter medo?", questiona o activista, que hoje vem a Lisboa para participar na marcha global da marijuana.
Tal como a maior parte dos que se dedicam à produção caseira, S. considera que a ideia de vender é contra os princípios do autocultivador. Nestes meandros, é habitual dizer-se que o tráfico é inimigo do autocultivo. E que a perseguição a quem cultiva favorece a criminalidade organizada. "Há cada vez mais pessoas a cultivar e a lutar pela legalização do autocultivo. Tal como a palavra indica, produzem para consumo próprio, não querem financiar as redes de tráfico", explica Pedro Pombeiro.
Mais de 20 anos depois de o pai ter encontrado uma planta "que se fartava de crescer mas não dava flor", S., hoje com 44 anos, abre-nos a porta do seu retiro. É um apartamento desabitado no Norte do país, onde se dedica às suas grandes paixões: a pintura e as plantas de canábis. "Por ano costumo ter 12 ou 13 plantas. São para mim e para mais dez amigos. Começo a colher em Setembro, e em Fevereiro ainda temos erva. Cada planta dá cabeças para encher uma garrafa de água de um litro e meio", garante o empresário, que fuma regularmente desde os 18 anos.
Ao contrário dos muitos produtores de canábis portugueses, S. não tem qualquer método de cultivo sofisticado. "Só água e terra", explica. Em tempos, uma vez por dia, mudava os vasos da varanda das traseiras para a da frente, "para apanharem sol todo o dia". Hoje limita--se à poda: "Ficam mais fortes e não crescem tanto em altura."
Ainda assim, não será muito difícil ao vizinho da frente identificar as plantas de canábis, que ganham espaço entre uma laranjeira e um carvalho, em plena varanda urbana. Para evitar os olhares indiscretos, o empresário instalou uma pequena rede de jardim no parapeito. Nada que o preocupe muito.
Planta de estimação Até aos 18 anos, quando semeou pela primeira vez uma planta, P. não fazia ideia do que era o autocultivo. Nunca plantara qualquer espécie, mesmo tendo uma família ligada à agricultura. Hoje fala de clones canábicos como um padeiro de farinha e pão. "Foi um holandês, uma espécie de graal, que me inspirou", conta. "É como o vinho. A marijuana tem diferentes espécies, sabores, efeitos, consoante o tipo de semente." Foi numa pequena divisão de casa, onde em tempos teve um estúdio de fotografia, que montou a sua estufa. "Não é muito sofisticada", adianta. "Tenho duas lâmpadas, um extractor e um intractor de ar." O material é caro: só uma lâmpada de sódio com 600 watts pode custar 125 euros. Além do investimento, convém somar 70 euros ao consumo mensal de electricidade.
P. sabe bem do que fala: por ano, produz uma média de 10 plantas, quantidade suficiente para ele e para a namorada. E se uma estufa caseira não implica uma dedicação excessiva ? apenas a rega, que pode ser automática, e a poda ?, a verdade é que "criar uma planta de canábis é muito mais do que isso". "Dedico bastante tempo da minha vida às plantas, crio uma relação com elas. Como se fossem animais de estimação."
Fonte: Original
WhitBud- Mensagens : 190
Data de inscrição : 06/07/2009
Sistema de Cultivo
Tipo de Cultivo:
Iluminação:
Substrato:
Re: Charros cultivados em casa
Ate fiquei comovido….llllooollll
Muito bom o texto é alguma das dificuldades que o cultivador passa......
uma critica construtivas não metas textos tão grandes……cansa a vista… resume….
fica bem bons fumos
Muito bom o texto é alguma das dificuldades que o cultivador passa......
uma critica construtivas não metas textos tão grandes……cansa a vista… resume….
fica bem bons fumos
space 333- Mensagens : 15
Data de inscrição : 05/08/2009
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